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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Neuquén a Lujan e Uruguai.

Em três dias tivemos uma impressionante explosão de imagens e cores. Como já havia relatado, saímos de Pucón e viajamos até Neuquén. No dia seguinte cumprimos cerca de 1.200 Km em um só dia, chegando a Lujan no final da tarde de domingo. Nesse trajeto passamos quase toda a estrada que havíamos percorrido na ida. A diferença é que fizemos um trecho entre General Roca e muito próximo de General Acha, que deixamos de lado quando descemos. Neste itinerário quase 2/3 do percurso bem que poderia receber o título de "estrada mais solitária do mundo", desbancando a Rota 50 dos Estados Unidos. Não há abastecimento e nem mesmo uma casa para pedir ajuda se precisar de algo. São mais de 350 Km no qual passamos por dois carros. A vantagem é que deu para compensar a distância e aumentar um pouco a velocidade. 
Não estava totalmente programada, embora fosse uma possibilidade, a passagem pelo Uruguai. Saímos de Lujan e fomos dormir ontem em Santana do Livramento. O principal motivo desse caminho foi o de comermos um "pancho", tomar um pomelo da Paso de Los Toros e comer um bom cordeiro Uruguaio. Esta parte foi cumprida com louvor.
Foram vários os microssistemas geográficos vivenciados em tão pouco tempo.
O que vale comentar é que como iriamos somente passar pelo Uruguai, resolvi não fazer câmbio e, se preciso, pagaria o combustível com cartão de crédito. Esqueci que teria na rota duas praças de pedágio. Quando vi estava na primeira delas, próximo de Artigas. Então parei o carro para indagar o preço do pedágio e onde poderia fazer câmbio. O policial estranhou a pergunta e me informou que eu poderia pagar o pedágio também com pesos argentinos, reais, pesos chilenos ou mesmo dólares. Isso eu não sabia porque sempre fiz câmbio e paguei com pesos uruguaios. Coloquei o carro junto ao guichê de cobrança e conversei com a atendente (uma senhora muito simpática) e disse que estava surpreso. Ela sorriu e disse que no Brasil os uruguaios não têm a mesma sorte. Reconheci que não somos mesmo amigáveis com os visitantes. Ela lembrou que a Argentina e o Chile também não o são. Então disse a ela que exatamente por isso eu entendo que o Uruguai é o melhor país da América. Ela abriu ainda mais o sorriso e agradeceu por encontrar alguém que diga isso. Eu me despedi com o convencimento aumentado na proporção do sorriso dela.
Na fronteira entre Uruguai e Brasil (Rivera e Santana do Livramento) recebemos o mesmo tratamento com que fomos brindados durante toda a viagem. A cordialidade foi a tônica. Encerramos com chave de ouro com o atendimento de uma policial federal que foi gentilíssima e conversou sobre viagem de forma que parecia que nos conhecíamos de loga data. Foram seis passagens fronteiriças exemplares. 
Aliás, é preciso reconhecer também a mudança drástica de comportamento da Policia Caminera da Argentina. Fomos parados em duas oportunidades para conferir documentos e controle de deslocamento. Em ambas o tratamento foi gentil e profissional. Preciso fazer esse registro porque não foram poucas as vezes que critiquei os policiais argentinos. Tenho várias e longas histórias de  péssimo atendimento e de achaque.  Também registro para que outras pessoas que eventualmente pensem viajar de moto ou carro pela Argentina não sejam envenenadas por conceitos advindos de outros tempos. Já a policia chilena continua a cordialidade de sempre. 
Por fim, o último registro para encerrar a viagem (já que agora estamos em Porto Alegre e amanhã retornamos para casa) é ao mesmo tempo lamentável e um alento. Falo sobre o deplorável fato de que em pleno 2020 ainda seja necessário a incessante luta das mulheres para se libertarem de manifestações constantes de violência. O alento é verificar como o movimento tomou e vem tomando uma dimensão planetária e ganhando uma força nunca visto antes. Durante toda a viagem e nos lugares mais distantes e de difícil acesso as mulheres estão informadas e lutando de forma expressiva. Recolhi algumas dessas manifestações em fotos que publico aqui com o duplo sentimento que animou a tomada.
Até a próxima.
Espero que não demore muito.










sábado, 14 de dezembro de 2019

De Castro para Pucón e depois Neuquén.

Ontem deixamos Castro e a Ilha de Chiloé em direção à chamada Araucania Lacustre. Para tanto passamos por um bom trecho da Região dos Lagos e da Região dos Rios. 
Fomos pela Panamericana até Los Lagos, uma vez que já havíamos feito por estrada de terra todo o contorno do Fiorde e chegado por aí a Puerto Varas. Em Los Lagos abandonamos a estrada principal e nos dirigimos até Villarrica e daí a Pucón por vias secundárias, vendo lagos e rios e passando por simpáticos lugarejos. Uma viagem maravilhosa e sem muita pressa para chegar. 
Tangenciamos Villarrica e nos dirigimos diretamente a Pucón para rever aquela cidade que nos impressionou anos atrás dada a sua organização e a beleza dos seus prédios. Agora voltou a nos impressionar pelo tamanho que tomou e pela mesma organização. Uma cidade turística e muito agradável. Belas lojas, ruas limpas, bons restaurantes.
Desta vez, no entanto, traímos os chilenos porque fomos jantar em um restaurante típico uruguaio. Fui levado a ele pelo aroma que havia sentido quase uma quadra antes. Estávamos nos dirigindo para um outro lugar muito bonito, quando acusei o golpe desferido pelo olfato. Penso que nunca havia comido um morcilla igual. Como prato principal um "asado de tira" que ficará registrado na memória. Bem, o vinho era chileno e isso tempera um pouco a anunciada traição.
O objetivo de voltar a Pucón, na verdade, era o de estarmos bem colocados para fazermos a viagem de hoje. Há algum tempo estávamos viajando por essa região, descendo a Panamericana desde Santiago e em direção a San Carlos de Bariloche. Viagem em família em companhia de Narcisio e Dirlei. Sabíamos que uma das passagens fronteiriças entre Chile e Argentina era (e é) o denominado Mamuil Malal. Naquela oportunidade a estrada era praticamente toda de ripio. Na parte do chile começava pouco depois de Pucón e na da Argentina quase até Junin de Los Andes. Estávamos com carros não apropriados para a estrada e, então, desistindo da empreitada e seguindo para Puerto Varas e Puerto Varas Montt e voltando para passar na altura de Osorno na passagem chamada Cardenal Antonio Samore, um dos dois com asfalto na época (o outro era o Los Libertadores, que havíamos passado para o Chile). Ficou a fantasia de fazer essa passagem. Hoje realizamos integralmente o desejo antigo. Valeu a pena.
Seguramente um dos mais bonitos "pasos fronteirizos" pela diversidade das paisagens desde a altitude chilena até patagônia com ares de pampa da argentina. Como troféu maior está o de passar exatamente ao pé do vulcão Lanin. Majestoso! Já o havia visto de outros ângulos, mas estar exatamente na sua base foi impactante. 
Durante a viagem alternamos decisões entre ir mais rápido e acelerar nosso retorno para casa (a saudade já está mais aguda) ou aproveitar ao máximo essa decida. Venceu a segunda. Estamos em Neuquém. Cumprimos hoje míseros 560 Km. Mas foi mais uma vez uma decisão acertada.
Amanhã seguiremos sem um lugar definido para o pernoite, mas sendo certo que iremos na direção de Lujan (Provincia de Buenos Aires) e que no outro dia deveremos cruzar o Uruguai em algum ponto. De qualquer forma, como tem acontecido nos últimos dias, podemos mudar de ideia a qualquer momento. Vejamos! Conto em outro momento.








quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

De Hornopirén a Castro.

Depois da acertada decisão da assembléia geral, sobre a qual falei anteriormente, e sob a influência de um bom pisco sour e, ainda, considerando a beleza do hotel que encontramos em Castro, Capital da Ilha de Chiloé, decidimos ampliar o prazo de estada por aqui. 
Ontem jantamos no hotel e provamos (comemos mesmo!), a aprovamos, um prato famoso da ilha que se chama Curanto (foto abaixo). Um experiência gastronômica para ficar registrada na memória para sempre. Trata-se de um mix de mariscos (nunca vi tantas conchas diferentes) com um tipos de embutidos de porco e pedaços de frango. Tudo é cozido sobre pedras quentes e cobertos por um enorme quantidade de palhas. É um prato simplesmente fantástico e muito diferente. 
Com mais tempo fomos até Quellón o último ponto ao sul da Ilha Grande de Chiloé e onde termina ou começa da Rodovia Panamericana que liga o Chile ao Alasca, cruzando 12 países, e tem a extensão de 22.000 Km. 
Almoçamos em um restaurante típico da região e pela primeira vez comemos Congrio em posta e feito em caldo. Realmente muito bom. Aliás, o aroma do restaurante, que tinha a cozinha aberta bem no meio do salão, indicava de pronto o que viria a ser o sabor dos pratos.
Um dos orgulhos dos Chilotes são as suas igrejas (pequenas igrejas), que possuem uma técnica particular de construção que rendeu o reconhecimento da Unesco e elegeu 16, das mais de 70 existentes, Patrimônio da Humanidade. Além de constituirem uma escola própria de arquitetura, estão entre as poucas construções em madeira do século XVII.  Há um importante segmento turístico envolvendo a visitação da Rota das Igrejas. Não fizemos a rota, mas passamos por algumas delas e registramos essas visitas ocasionais.
Atingimos hoje o ponto mais distante ao oeste da viagem. O ponto mais afastado ao sul foi Caleta Tortel. 
Jantaremos novamente no hotel e amanhã começarmos o retorno. Agora será como na vinda. Aproveitaremos ao máximo o tempo de deslocamento, já que todo o trajeto é por demais conhecido. 
Narcísio e Dirlei, vários são os momentos que sentimos saudade daquela viagem de algum tempo atrás, quando singrávamos mares até então não navegados. 
Quando der tempo farei comentários sobre impressões e situações vivenciadas nestes dias. 
As últimas fotos publicadas hoje fazem parte de uma série que chamei de "Janelas para a Patagônia".


















terça-feira, 10 de dezembro de 2019

De Chaitén para Hornopirén.

Hoje o dia foi tranquilo! Avançamos cerca de 500 Km e dirigi somente 70 Km. O tempo foi para navegar. O dia estava nublado. Em dias como o de hoje a paisagem é linda para quem está dentro dela, mas para fotos não é nada favorável.
O mais importante foi a assembléia geral realizada no momento da navegação, de cuja votação unânime resultou a deliberação de que antes de voltar vamos fazer um passeio na Ilha de Chiloé. Amanhã sairemos cedo, fazendo, ao final da Carretera, um contorno o último fiorde da Carretera e de Puertos Varas, então pela Ruta 5, iremos até Castro. Dependemos, claro, da balsa entre Pargua e Chacao. Amanhã conto o resultado.
Como referi, não foi um dia para fotos. De qualquer forma, algumas sempre restam. Como nesta região os pássaros são a atração principal, tentei registrar alguns momentos deles e misturar com algumas poucas de paisagem. Vejamos!














segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Coyhaique, Puyuhuapi e Chaiten.

Nos últimos dias o tempo (apesar de anoitecer muito tarde) a intensidade das atividades e as cervejas, vinhos e piscos, me impediram de contar diariamente, como gosto de fazer.
Ainda em Rio Tranquilo, no dia seguinte, por volta de 9,00 horas fomos fazer a navegação pelo Lago que nos levou à Catedral e à Capela de Mármore. Novamente me deslumbrei com o lugar, embora já tenha estado lá ano passado. Claro que na primeira vez a luz que tivemos foi a do final da tarde e agora foi pela manhã, o que muda muito a percepção.
Ainda tivemos tempo de visitar um glaciar, dois lagos e uma cachoeira nas proximidades de Puerto Rio Tranquilo.
Por volta de meio-dia seguimos viagem na direção de Coyhaique. Uma das melhores cidades na Carretera Austral. No trajeto entramos para conhecer Puerto Ibañez.
Ficamos em um hotel novíssimo, e que muito recomendo, chamado Entre Cumbres. De um bom gosto impressionante e com apartamentos muito bem equipados. Eu gostaria de ter ficado muito mais tempo na cidade. O problema foi que chegamos no sábado, já na parte da tarde e no final de semana tudo fica fechado e a cidade muito vazia. De qualquer forma, curtimos muito o tempo em que lá estivemos. Jantamos em um restaurante chamado Da Gos. Como está sendo a marca desta viagem, tomei uma cerveja local excepcional. Fabricada por belgas que residem na região. 
No domingo saímos cedo para conhecer Puerto Aysen em direção a La Junta. Paramos para muitas fotos. Tínhamos com objetivo maior neste trajeto conhecer o famoso Ventisquero Colgante. Bem na entrada para o parque tem um café. Nesta parada encontramos novamente os viajantes de moto que havíamos encontrado no trajeto entre Bragado e Neuquén e que referi anteriormente. Comemos algo por ali, aproveitando uma conversa muito aprazível e com muitas dicas recíprocas para o trajeto futuro, já que eles desciam a 7 e nós subíamos. Nesse mesmo trajeto, pouco antes, encontramos um casal de Ingleses que mandaram a moto para Buenos Aires, desceram ao Ushuaia e estão subindo rumo ao Alasca. Em razão da demora nas conversas e nas visitas aos pontos de interesse, resolvemos ficar em Puyuhuapi. Um vilarejo interessante. Fomos jantar em restaurante muito simples, mas com uma comida excelente e com cerveja local digna de nota. O ponto alto do jantar foi encontrar um brasileiro que estava viajando sozinho. Aluguou um carro em Puerto Mont e foi até Coyhaique, desistindo do resto de viagem pela Carretera em virtude do trecho de rípio que teria pela frente. Experiente em viagens e em vida, nos encantou com seus relatos e suas considerações. Só não coloco o nome aqui porque não pedi autorização, mas foi uma companhia e tanto na noite de ontem.
Hoje pela manhã seguimos para Chaitén, onde, finalmente, encontrei um cabana com um wi-fi descente. Aliás, o grande problema desta região é a condição de conexão com wi-fi, mas está aos poucos melhorando.
A propósito disso, iniciando algumas considerações gerais, lembro de ter dito, em algum momento na viagem de moto pela mesma Carretera, que a Argentina estava muito à frente do Chile, na região da Patagônia. Hoje, talvez o quadro não tenha invertido, mas a verdade é que o Chile melhorou muito. As pessoas estão mais preparadas e é possível encontrar pousadas e cafés, com produtos excelentes, em pontos antes impensáveis. De outro lado, diferente do que sempre ocorreu e que esperava encontrar, o Chile está muito mais barato que a Argentina, inclusive no que se refere ao combustível. Aliás, o combustível na Argentina está mais caro que no Brasil. Fui mesmo uma surpresa.  
Como é insistentemente dito por todos aqueles que viajam pela Patagônia, aqui tudo é muito grande, muito forte e muito intenso. Para mim as duas grandezas que mais impressionam é o vento e o silêncio. Pode parecer contraditório, já que o vento faz barulho notável. Mas quando o vento cessa ou a encontramos um bom abrigo, o silêncio se agiganta e encanta. Penso que alguém que tenha nascido ou que esteja há muito tempo por aqui tenha dificuldade de viver em outro lugar. É um luxo e um conforto que só experimentando para saber.
Por fim, comento que penso que está tenha a viagem mais conversada de todas que eu já fiz. Me dediquei a isso. Um café nunca foi só um café, foi um pretexto para uma "charla" de pelo menos meia hora. Segui a risca o ditado sobre tempo e pressa nestes rincões.
O maior trecho de terra nesta rota bimodal concluímos hoje. A partir de amanhã o trajeto maior será em barcaças. Estamos a dois dias de concluir a Carretera Austral e realizar mais sonho.
Sem qualquer pretensão de dar uma pálida ideia do que vimos, seguem algumas fotos (aproveitando a internet).